quarta-feira, 26 de abril de 2017

RESENHA: Quatro estações em Roma

No dia em que Anthony Doerr e a esposa voltam da maternidade com seus gêmeos recém-nascidos, ele descobre que recebeu um prêmio da Academia Americana de Artes e Letras, o Rome Prize, que inclui ajuda de custo, um apartamento e um estúdio para escrever na Itália. Quatro estações em Roma nasceu das memórias do ano que o autor passou na cidade com a esposa e os filhos.
Vindo do interior dos Estados Unidos, o estranhamento de Doerr com o novo país começa logo na chegada: a cozinha do apartamento não tem forno. As janelas não têm telas. Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, as verduras e frutas são vendidas em feiras ao ar livre, e não em um supermercado. Para Doerr, Roma é um mistério: um outdoor de uma marca de roupas tremulando na fachada de uma igreja de quatrocentos anos, uma construção comum ao lado de uma obra-prima da arquitetura. Em meio a tudo isso, ele cuida dos filhos, lida com uma insônia que parece não ceder e tenta, sem muito sucesso, escrever um novo romance — Toda luz que não podemos ver, lançado sete anos mais tarde e que acabaria rendendo ao autor o Pulitzer de ficção.
Quatro estações em Roma traz o texto primoroso e sensível que tornou Doerr celebrado no mundo inteiro, ao mesmo tempo um relato íntimo e uma celebração da Cidade Eterna.

A união do Anthony Doerr e Roma só podia ser interessante. Foi a minha admiração pela escrita dele e pela cidade italiana que me fizeram querer ler o livro, mesmo que fosse uma não ficção, gênero que não costuma ser minha prioridade de leitura.

Ele foi para Roma em um ano particularmente cheios de acontecimentos que marcaram o mundo: o tsunami que vitimou milhares de pessoas, a morte de João Paulo II, o sequestro de uma jornalista italiana. Todos esses infortúnios acontecem quando o autor está na Cidade Eterna e, enquanto rememoramos esses acontecimentos, ele vai traçando paralelos que enfatizam sua percepção e sua experiência em Roma.

As passagens em que o autor descreve os monumentos sempre eram as melhores para mim. Apaixonada pela arquitetura da cidade e com o sonho de uma dia visitá-la, ficava ansiosa por cada relato dele sobre a paisagem, as edificações antigas, as observações que fazia das construções e das artes que elas abrigavam. 

Doerr faz mais do que nos relatar suas memórias: ele passa as sensações, os sentimentos, as boas e más situações. É um apanhado delicado e sincero dos seus dias em Roma, onde não só a cidade e a língua eram novidades. Ser pai de primeira viagem, ainda por cima de gêmeos, enfrentar um bloqueio em relação ao seu novo romance, conviver com costumes tão diferentes da sua cidade nos EUA eram desafios que constantemente ele tinha que lidar. 

O tom é poético e pessoal de uma forma que o leitor vira um amigo escutando seus relatos ao mesmo tempo que se sente inserido em Roma, tendo aquelas experiências, vivenciado as mesmas situações e as quatro estações que marcam o livro. Foi um livro diferente das minhas leituras habituais, mas que me conquistou. E é do Anthony Doerr, já vale a pena ler. 

Sobre o livro:
ISBN: 9788551000342 
Autor: Anthony Doerr
Editora: Intrínseca
Ano: 2017
Páginas: 240


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