terça-feira, 14 de março de 2017

RESENHA: Reparação

O premiado escritor Ian McEwan arma em “Reparação” uma trama fascinante em torno de Briony Tallis, pré-adolescente que nutre a ambição de se tornar escritora. No dia mais quente do verão de 1935, numa casa de campo da Inglaterra, Briony vê pela janela uma cena incompreensível: sua irmã mais velha, sob o olhar de um amigo de infância, filho da arrumadeira da família, despe a saia e a blusa para mergulhar, de calcinha e sutiã, na fonte do quintal. A partir desse episódio e de uma sucessão de equívocos, a aprendiz de romancista, movida por uma imaginação fértil, comete um crime que marcará o futuro de toda a família — e Briony passará o resto da vida tentando desfazer o mal que causou. Além da questão da culpa e do perdão, o leitor perceberá, retrospectivamente, que estavam em jogo ao longo de toda a obra também a relação entre ética e estética e uma reflexão sofisticada sobre a natureza da literatura, seus poderes e limitações 

Reparação foi a escolha para o primeiro clube do livro do ano. Não foi uma leitura cheia de surpresas, já tinha conferido o filme anos atrás, mas ainda sim, me peguei com sentimentos que não imaginava que teria. Claro que alguns continuaram, e se fortaleceram, como minha raiva pela Briony, minha admiração por Cee e Robbie, minha chateação com Lola, mas os outros personagens também tiveram sua carga emocional para passar.

A Briony realmente não conseguiu me fazer simpatizar com ela em momento algum. Mesmo que seu erro tenha sido cometido numa idade difícil de se culpar, ela ainda sim não o admite de forma contundente quando cresce. Fiquei o tempo todo achando que suas razões eram sempre egoístas e para satisfazer a si mesma, que ela não buscava realmente reparar o que tinha feito, mas sim amenizar a culpa que sentia. 

Embora já conhecesse a história, gostei de revisitá-la e encontrar o amor de Cecilia e Robbie, como duas pessoas que realmente se completavam e entendiam. Os dois começam tão incertos do que sentem, mas ao constatar, perceber seus verdadeiros sentimentos, ambos são determinados e corajosos. Gosto da impetuosidade da Cecilia, sua sinceridade. O Robbie é muito inteligente, esforçado, sonhador. Difícil não se sentir pesaroso com tudo que os dois passam. 

Tanto quanto o livro é sobre erros, mentiras, culpas, amor, ele também é sobre o processo de escrita, sobre a criação de personagens e suas histórias. Quando Briony, aspirante a escritora, pensa sobre a forma de descrever, quais emoções passar, quais caminhos justificam os acontecimentos, vemos como ela trata suas criações ao mesmo tempo que temos sua visão dos acontecimentos analisados pela mesma ótica.

Ian McEvan é mestre em mexer com os sentimentos do leitor e foi uma montanha russa de emoções ler "Reparação". Me agradou muito como ele constrói a história e como, ao final da leitura, fiquei surpresa de uma maneira que me deu vontade de ler o livro novamente sobre uma nova ótica. Valeu muito a pena ler mesmo com a experiência do filme, pois percebi aspectos que não tinha reparado antes - como, por exemplo, os ausentes Sr. e Sra. Tallis - e que tiveram grande influência em tudo que ocorreu. Vocês deveriam ler também.

Sobre o livro:
ISBN: 9788535919974
Autor: Ian McEwan
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2011
Páginas: 272

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