sexta-feira, 15 de julho de 2011

Harry Potter Day - O Primeiro Dia de Sua Vida

Shortfic por Flávia Tironi



Capítulo Único

Naquela manhã de outono foi que o garoto acordou em seu quarto. Sonhara com várias coisas horríveis, pesadelos dos quais jamais queria lembrar-se novamente. Harry sabia bem o que era estar só durante aqueles seus 17 anos. Mas naquela manhã, quando acordou e procurou seus óculos, Harry não reconheceu o lugar em que estava. Uma cama particularmente aconchegante e bem parecida com o que ele considerava a cama de seus sonhos. Os móveis organizados e alguns pertences no chão como o quarto de qualquer garoto, mas nada muito bagunçado. Dava pra se virar ali, se achar. Pergaminhos, tinteiros velhos, penas partidas, muitos livros e sua varinha de uma forma que não vira antes, à mostra, em cima da escrivaninha bem polida. A janela branca entreaberta condenava os primeiros raios de sol daquela manhã. Sentou-se na cama, examinou tudo e pensou “que será que eu bebi ontem?". Sorriu pra si mesmo e sacudiu a cabeça levando as mãos no rosto de novo. Colocou os pés no chão e sentiu-o tão macio. Era o carpete que envolvia apenas a cama. O restante era um piso de madeira. Andou de um lado para o outro, a gaiola de sua ave estava aberta.

- Engraçado Edwiges não ter voltado ainda. – comentou para si e deu de ombros, afinal nada estava muito comum ali, mas ainda estava tão sonolento e com uma sensação tão boa que não iria se preocupar com nada, não ainda. Não lembrava de dormir tão bem assim fazia tempo. Abriu o armário e então começou a achar meio estranho.

- Roupas novas. – falou. - Eu tenho roupas novas? - estava tudo muito bem passado e perfumado. Olhou ao seu redor e viu uma portinha aberta, caminhando até ela. - Um banheiro só pra mim? – franziu as sombracelhas e sacudiu a cabeça involuntariamente. - É Harry, fica frio cara! - conversava sozinho.

Sentiu vontade de um banho e mais uma vez pensou “se for sonho vou acordar agora”. O garoto se despiu, tirou seus óculos e enfiou-se debaixo do chuveiro deixando a água cair em sua cabeça e molhar todo seu corpo. O shampoo e sabonete pareciam ter o mesmo perfume delicioso de pêssegos frescos. Um prazer enorme tomar aquele banho, parecia precisar. Quando começou a não ver mais os azulejos devido ao vapor que se formara com a água quente, Harry decidiu que era hora de encerrar seu banho. Fechou as torneiras, alisando os cabelos para trás. Depois enrolou-se na toalha dependurada fora do box, colocou novamente os óculos e foi até o espelhinho na parede, com um armário embutido atrás dele. Abriu-o e tomou a escova em suas mãos e começou a escovar os dentes examinando cada frasquinho ali dentro. Havia poções para melhorar o hálito e também para clarear olheiras. Enquanto bochechava água em sua boca, desembaçava o espelho. Quando mirou seu reflexo nele, a escova amoleceu em suas mãos, na mesma rapidez com que cuspiu fora toda água da boca. Afastou-se respirando ofegante. Espelho mentiroso, não queria vê-lo de novo, ou queria? Bem devagar tentou encará-lo de e viu o mesmo Harry, a não ser por um detalhe, sua cicatriz sumira como se nunca estivesse estado em sua testa antes. Não era ilusão dele, era o que via de verdade. Então Harry olhou novamente tudo ao seu redor e saiu devagar do banheiro. Sentou-se na cama pensativo, se é que aquela cama existia.

- Tá legal! Agora sua imaginação já foi longe demais! - respirou fundo, vestiu a primeira roupa que viu em sua frente e saiu daquele quarto vendo um corredor com mais duas portas e um início de corrimão. Definitivamente parecia uma casa, Harry concluiu, mas que casa? Não era a Toca, talvez fosse a casa de Hermione porque esta ele ainda não conhecia, mas lembrava-se de que ela mesma tinha falado que sua casa tinha apenas um patamar. Então escutou vozes, uma espécie de discussão matinal. Franziu as sombracelhas sem compreender ao certo. Chegou mais perto do corrimão e não viu nada, nem ninguém, porém as vozes aumentaram um pouco o tom.  Descalço, segurou-se no corrimão e começou a descer pé a pé bem devagar.

- Não demora amor, ou seu café ira esfriar!!! - uma voz feminina gritou.

- Só um minuto querida! – uma voz, desta vez masculina, respondeu e Harry escutou uma porta bater no andar de cima, mas sem veemência. Lá embaixo a voz começou a cantarolar, parecia o hino de Hogwarts. Já, no que parecia ser a sala de estar, deu uma olhada curiosa em tudo. A porta de entrada era de madeira e era branca também, assim como a janela do quarto e as demais. Uma lareira à sua direita ainda cheirava fumaça. Os sofás eram beges com algumas almofadas e também xales vinho. Então olhou para o outro lado guiado por um reflexo na cozinha. Mais uma vez respirou fundo e caminhou até lá parando debaixo da soleira. A mulher se virou.

- Querido, você acordou! – disse com um sorriso dando um beijo em seu rosto. – Vem! Sente-se aqui. - o puxou para a mesa e afastou a cadeira para Harry sentar-se. Com um aceno de varinha conjurou um café da manhã mais que perfeito sobre a mesa. Harry olhou da tigela de cereais para a mulher. Ela tinha os cabelos ruivos e vestia um suéter vermelho e saias pretas até os tornozelos. Então Harry começou a ficar com medo e não conseguia nem pensar em comer. - Que foi querido? Não está bom? – perguntou preocupada e o olhou. Seus olhos poderiam ser os de Harry, tão verdes eram e tão ternos. – Harry...? - ela o chamou fazendo-o voltar à tona e piscar os olhos.

- Hum...? – resmungou meio zonzo.

- Está pálido, que foi que houve?

- Devo... ter... dormido mal... eu acho. – respondia sem pestanejar muito. Sua cabeça estava girando, isso não podia ser, não podia. Examinou seus pensamentos. – Desculpe...

- Sim, querido???

- Mas o que está acontecendo aqui afinal? – quis saber imediatamente. Na verdade já passara da hora de perguntar tal coisa.

- Aqui? Aqui onde Harry? - ele começava a ficar ansioso. Esquivou-se quando ela ameaçou toca-lo.

- Eu não sei que brincadeira é essa, mas eu quero que pare agora! – exigiu ficando de pé num salto.

- Brincadeira? - a mulher largara seus afazeres e se concentrara nele. Parecia não compreender bem a reação do rapaz a sua frente.

- Quem mandou você até aqui, hein? Foi ele não foi?

- Ele? Mas do que...

- Não finja que não sabe do que estou falando!

- Mas Harry, eu realmente não sei do quê, ou de quem você...

- Voldemort! – falou friamente cerrando os punhos. - É seu mais novo truque não é? - o mais engraçado era que aquele nome provocara na mulher a mesma reação que provocava em Harry, absolutamente nada.

- Querido tem certeza de que está bem? - ele sorriu sarcástico e empunhou sua varinha. A mulher se afastou um pouco surpresa.

- Tá bom... isso já foi longe demais! Não me obrigue a usar isso! – então os olhos verdes dela brilharam.

- Eu... eu queria ajudar você, mas eu realmente não sei o que foi que aconteceu. Seu pai e eu, nós...

- Pai? – repetiu incrédulo. Antes que ela pudesse falar mais alguma coisa Harry soltou sua varinha tentando se equilibrar na mesa, parecia que ia cair tamanha tontura sentiu.

- HARRY!!! – ela gritou o segurando e o fazendo sentar-se. Ele abaixou a cabeça entre as pernas. -  Accio água!!! – ela falou conjurando um copo d’água. – Tome! – entregou a ele. Harry a olhou novamente. - Beba!

- Estou bem, obrigada. – ele respondeu ainda impaciente segurando o copo. Não seria louco de beber qualquer coisa que viesse daquela estranha.

- Harry, meu amor, eu... eu não sei exatamente porque disse aquilo, mas quer tentar pelo menos explicar-me? - a mulher pediu docemente.

- Disse o quê?

- Bem, você disse que... Voldemort tramou tudo isso, não foi? – ele desviou o olhar. Ela sorriu brevemente. - Não sei o que foi que aconteceu esta noite, talvez você tenha ido dormir tarde e...

- Dormir tarde? Como sabe? Eu não estava aqui ontem estava? Eu não me lembro onde estava... – comentou distante.

- É claro que estava! Você não costuma dormir fora. Não porque eu e seu pai não permitamos, mas porque você mesmo decidiu isso.

- Você e meu pai?

- Sim, eu e seu pai.

- Como conheceu meu pai?

- Harry, sabe muito bem que eu e seu pai nos conhecemos em Hogwarts antes de nos casarmos.  – Harry mirou a varinha no chão e teve vontade de estuporá-la por um breve instante, mas a questão era que algo o impedia. Não sentia ódio por ela, não conseguia. Que brincadeira maldita seria aquela?

- Está achando mesmo engraçado? Você está? Hum? – Harry virou-se pra ela - E VOCÊ???????? - berrou para o nada esmurrando a mesa - NÃO É O BASTANTE TÊ-LOS TIRADO DE MIM VOLDEMORT??? –levantou-se muito alterado agora. - NÃO VAI ME ILUDIR COMO TENTOU FAZER UMA VEZ! NÃO VAI!!!!!!!

- Harry! Harry! - a mulher o sacudiu, fazendo-o virar-se e colocando a mão em seu rosto gélido.

- Querido, Voldemort morreu há dezesseis anos! – disse calmamente como quem explica a uma criança que algo não aconteceu.

- O quê?? – indagou de olhos vidrados.

- Sim Harry, Voldemort está morto.

- Não! Isso é mentira!!! – ele a acusou.

- Porque eu mentiria sobre sua morte? Eu estava lá junto com a Ordem e o vi definhar diante de todos nós jurando vingança.

- Não! Vocês estavam... estavam em Godric’s Hollow e Voldemort os matou! – pela primeira vez ela se calou.

- Como sabe... como sabe disso?

- Achou mesmo que seria tão fácil me enganar?

- Não Harry, eu não estou enganando você. Tudo o que eu disse até agora é verdade. O que me espanta é que nós nunca contamos a você que... fomos salvos de morrer naquela noite.

- Salvos? – a mulher sentou-se e uma lágrima escorreu por sua face.

- Na verdade descobrimos um amigo e perdemos outro. Pedro tentou nos trair, mas Sírius descobriu tudo e avisou-nos antes que Voldemort viesse para cá...

     - Pare de me zombar com essas suas lágrimas falsas!!!

- Mas eu não estou zombando de você. Eu jamais faria isso... meu filho! – ela falou piedosamente e Harry sentiu seus olhos queimarem.

- Acha mesmo que vou acreditar que... que você é minha mãe?

- Porque duvida disso? – ela perguntou realmente magoada.

- Porque está fazendo isso? Porque não me deixa em paz com minha dor de ter perdido meus pais? Por quê?- Harry se sentou de novo. Não acreditaria nisso, estava decidido. Ela sentou-se em sua frente de cabeça baixa e olhos fechados e segurou as mãos dele entre as dela.

- Quando você chorou
   Eu enxuguei todas as suas lágrimas...

Harry a olhou devagar. Ela estava cantando em voz baixa.

 - Quando você gritou
   Eu lutei contra todos os seus medos...

Ele sentiu em seu peito um forte aperto e sua mente começou a recordar. Ela o fitou ternamente ainda chorosa.

 - Eu segurei a sua mão
  Por todos esses anos
  Mas você ainda...

- Tem tudo de mim. – Harry completou sem saber exatamente porque o fizera antes dela terminar e então seu rosto também ficou molhado inevitavelmente e ele a encarou como se ela fosse a coisa mais bela que já vira na vida. – Mãe?

- Harry!!!

Harry a abraçou tão forte que até mesmo ela ficou surpresa. Porém não hesitou em acolhê-lo em seus braços, o embalando com carinho e afagando seus cabelos. Como não esquecera da canção que ela costumava cantar para ele todas as noites antes de dormir? Era tão pequeno e mesmo assim isso não se apagara de sua memória. Tudo que vivera fora sonho? Um longo e terrível sonho do qual acordara finalmente? Harry preferiu não refletir mais se era ou não verdade que estava nos braços de sua amada mãe agora, apenas queria desfrutar disso o máximo que podia. Ela tinha a pele tão macia e o cabelo perfumado como ele imaginara. Choramingou.

- Aaah, não há porque chorar meu menino... está tudo bem, hum?

- Eu... eu sonhei tanto com isso. – ela apenas sorria sem entender exatamente porque Harry a abraçava como se fosse a primeira vez que o fazia.

- Eu vou estar sempre ao seu lado Harry, não se esqueça disso nunca! – ele se soltou dela e sacudiu a cabeça positivamente em concordância. Lílian enxugou-lhe o rosto.

- Querida, você... – Harry se virou rapidamente ficando de pé. - ...hum, oi Harry, finalmente acordou! - o homem a sua frente lhe sorriu. “Eu poderia ser ele”, Harry pensou. A não ser pelo nariz mais adunco e os olhos castanhos eram de fato muito parecidos.

- Pa... pai? – Harry o indagou.

- Tudo bem com... – e antes que ele pudesse terminar sua pergunta Harry o abraçou quase que o jogando no chão. O homem olhou para Lílian como que querendo saber por que aquele abraço repentino. Ela apenas deu de ombros. Ele voltou-se para Harry e o correspondeu. – Perdi alguma coisa? – ele perguntou ainda abraçado ao rapaz.

- Não... nada. – Harry respondeu depois de solta-lo. – Eu é que perdi muito tempo pai e não quero mais perder.

- Que bom filho, fico feliz por você. – falou meio confuso ainda, mas não deixou de sorrir puxando uma cadeira.

Era seu pai, o famoso Thiago Potter. Um pai como ele desenhara em sua mente. Aquele com quem Harry falaria sobre Quadribol e pediria conselhos sobre garotas. Tinha tanto o que conversar, mas ele se contentava apenas em observá-los ali, em sua frente, em sua casa, na mesa do café.

- Vamos... nos sentar então? Estou faminto!!! – sugeriu Thiago e os três sentaram-se.

- Alguma notícia sobre a Ordem? – Lílian perguntou servindo café.

- Bem... – ele abriu seu Profeta Diário de todas as manhãs. - ... a Ordem convocou um novo membro, uma tal de Ninfadora...

- Tonks?? – Harry completou.

- Isso mesmo, como sabe? – quis saber Thiago espantado, bebericando seu café.

- É... é uma longa história pai. – Harry sorriu. Lílian olhou dele com ar de cumplicidade para seu marido.

- E... quando ela começa amor? - perguntou abrindo o pote de geléia.

- Acho que na próxima semana. O Ministério não quer muito alarde quanto a isso, mas Dumbledore nos deu boas recomendações a respeito da garota e se ele falou está falado.

Harry lembrou-se de como Tonks fora uma boa amiga e de como Dumbledore sempre sabia de tudo. Pelo menos até onde sabia era assim. Não haveria de ser diferente agora, as personalidades de ambos eram muito reais. Como contaria isso para Rony e Hermione? Será que eram mesmo seus amigos? Esperava descobrir o quanto antes. Terminado o café Lílian conjurou um feitiço e tudo começou a ser organizado. Louças se lavando, migalhas de pão sendo varridas e até o arranjo sobre a mesa levitou sozinho até ela depois que o forro estava esticado.

- Líli, vou apanhar meu casaco e logo partimos.

- Sim, amor, vá logo! – eles se beijaram. Harry pode comprovar por fim o que ouvira de todos a respeito do amor tão grande de seus pais. - Filho, porque não sobe e termina de arrumar seus pertences? Não podemos nos atrasar nem mesmo aparatando. King’s Cross logo vai se encher e ficará impossível não sermos notados.

- Desculpe mãe, mas porque temos de ir a King’s Cross hoje? – ela sorriu como se não estivesse acreditando que Harry não soubesse.

- Ora, porque hoje é seu primeiro dia de aula do seu sétimo ano em Hogwarts. – ele boquiabriu-se. – Não vai querer perde isso, vai?

- Não! Claro que não! – respondeu seguro de si e empolgado. – E... e vocês vão até lá comigo?

- Como todos os anos querido, a não ser que você não queira. - Harry sorriu, andando até a soleira da porta e parando muito pensativo.

- Como poderia não querer isso? – Edwiges entrou pela janela e voou direto para o seu braço para um carinho do dono. - É do que eu sinto mais falta! – ela apenas lhe sorriu jogando um beijo.

Harry subiu as escadas imensamente feliz e constatou que aquele era de verdade, o primeiro dia de sua vida.

Um comentário:

  1. Ah, eu li essa fic faz tanto tempo... O que amo mais em Harry Potter são as pessoas maravilhosas que ele trouxe para minha vida. Foi por conta dele e de uma fic que a Flá entrou na minha vida e com ela veio Carol, Sabrine, Nina, Selhe... É como comentamos todos esses dias de ansiedade (e tristeza também) pelo último filme de HP: é só o começo. O começo de tantas amizades lindas e duradouras!

    Beijos!

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